2 de mai. de 2010

ESTUDO DA DÉCADA

Contexto histórico

Na década de 50 ocorreu a Guerra Fria, travada entre o EUA capitalista e a URSS comunista, logo após a Segunda Guerra Mundial, ocorrida na década de 40. A competição envolvendo os dois sistemas políticos foi simbolizada pelo programa espacial: a frenética corrida entre as superpotências em busca da liderança na exploração espacial. Os soviéticos saíram na frente: em 1957, lançaram o Sputnik I, o primeiro satélite a orbitar a Terra e, em 1961, o cosmonauta soviético Yuri Gagárin seria o primeiro homem a ser lançado no espaço. Apenas oito anos depois, o norte-americano Neil Amstrong daria o seu "salto gigantesco para humanidade" ao caminhar sobre a superfície da lua. A ciência, as viagens espaciais e a ficção científica se tornaram um obsessão. Motivos científicos passaram a ser associados com a modernidade e a aparecerem em todos os lugares.
Os Estados Unidos estavam vivendo um momento de prosperidade e confiança, já que haviam se transformado em fiadores econômicos e políticos do mundo ocidental após a vitória dos aliados na guerra. Isso fez surgir, durante esse período, uma juventude abastada e consumista, que vivia com o conforto que a modernidade lhes oferecia. Melhores condições de habitação, desenvolvimento das comunicações, a busca pelo novo, pelo conforto e consumo são algumas das características dessa época.
A televisão se popularizou e permitia que as pessoas assistissem aos acontecimentos que cercavam os ricos e famosos, que viviam de luxo, prazer e elegância, como o casamento da atriz Grace Kelly com o príncipe Rainier de Mônaco.
A tradição e os valores conservadores estavam de volta. As pessoas casavam cedo e tinham filhos. Nesse contexto, a mulher dos anos 50, além de bela e bem cuidada, devia ser boa dona-de-casa, esposa e mãe. Vários aparelhos eletrodomésticos foram criados para ajudá-la nessa tarefa difícil, como o aspirador de pó e a máquina de lavar roupas.
O design de carros nos EUA ganhou um visual novo e extravagante. Inspirado pelos aviões e foguetes, Harley Earl, da General Motors, começou a alterar a forma dos carros num estilo que expressava a confiança do pós-guerra na sociedade norte-americana. Seus carros eram largos, baixos e muito compridos. possuíam interiores luxuosos, criativos rabos-de-peixe panorâmicos e cores vivas. Nessa época surgiu nos EUA a polêmica estratégia da obsolência planejada. Com a introdução de pequenas mudanças esilísticas as empresas lançavam novas versões de seus produtos a cada ano, atigindo aqueles que se preocupavam com o status social tornando obsoleto o estilo do carro do ano anterior. Mais preocupante era a decisão de incorporar a obsolência física: carecendo de durabilidade, o produto tinha vida limitada. A defesa polêmica desse desperdício de recursos era o aumento de empregos.
Em contraste com o cinismo da obsolência planejada, algumas companhias, em especial a Braun, na Alemanha, e a Saab, na Escandinávia, começaram a projetar e a comercializar bens duráveis. Em 1955, o designer industrial, pintor e escultor suíço, Max Bill foi co-fundador da Hochschule für Gestaltung, em Ulm, na Alemanha. Bill estudara na Bauhaus e seu objetivo era dar continuidade à abordagem racionalista da escola ao design. Esse ressurgimento do estilo modernista assumiu, com maior intensidade, a busca por uma estética da máquina; exigia que o design se voltasse para o futuro, refletindo a vida moderna e abraçando a tecnologia. Esse enfoque funcionalista, rotulado frequentemente de estilo internacional, encontrou sua representação mais clara nos designs da escola de Ulm. Contava-se entre suas primeiras e mais importantes encomendas uma série de rádios e fonógrafos de Hans Gugelot e Olt Aicher para a Braun. Isso ajudou a formalizar a filosofia reducionista de design da Braun, ao mesmo tempo que levou ao desenvolvimento da "síndrome da caixa preta" no design moderno: tudo o que fosse desnecessário ao funcionamento do produto era eliminado. Linhas simples, durabilidade, equilíbrio e unificação eram as exigências fundamentais. Todos os produtos da Braun eram semelhantes, em geral com acabamento em branco ou preto lustroso, com o logotipo da companhia bem visível.

Moda

Com o fim dos anos de guerra e do racionamento de tecidos, a mulher dos anos 50 se tornou mais feminina e glamourosa, de acordo com a moda lançada pelo "New Look", de Christian Dior, em 1947. Metros e metros de tecido eram gastos para confeccionar um vestido, bem amplo e na altura dos tornozelos. A cintura era bem marcada e os sapatos eram de saltos altos, além das luvas e outros acessórios luxuosos, como peles e jóias. Essa silhueta extremamente feminina e jovial atravessou toda a década e se manteve como base para a maioria das criações desse período. Apesar de tudo indicar que a moda seguiria o caminho da simplicidade e praticidade, acompanhando todas as mudanças provocadas pela guerra, nunca uma tendência foi tão rapidamente aceita pelas mulheres como o "New Look" Dior, o que indica que a mulher ansiava pela volta da feminilidade, do luxo e da sofisticação. E foi o mesmo Christian Dior quem liderou, até a sua morte em 1957, a agitação de novas tendências que foram surgindo quase a cada estação.
Com o fim da escassez dos cosméticos do pós-guerra, a beleza se tornaria um tema de grande importância. O clima era de sofisticação e era tempo de cuidar da aparência. A maquiagem estava na moda e valorizava o olhar, o que levou a uma infinidade de lançamentos de produtos para os olhos, um verdadeiro arsenal composto por sombras, rímel, lápis para os olhos e sobrancelhas, além do indispensável delineador. A maquiagem realçava a intensidade dos lábios e a palidez da pele, que devia ser perfeita.
Era também o auge das tintas para cabelos, que passaram a fazer parte da vida de dois milhões de mulheres - antes eram 500 -, e das loções alisadoras e fixadoras.Os penteados podiam ser coques ou rabos-de-cavalo, como os de Brigitte Bardot. Os cabelos também ficaram um pouco mais curtos, com mechas caindo no rosto e as franjas davam um ar de menina. Dois estilos de beleza feminina marcaram os anos 50, o das ingênuas chiques, encarnado por Grace Kelly e Audrey Hepburn, que se caracterizavam pela naturalidade e jovialidade e o estilo sensual e fatal, como o das atrizes Rita Hayworth e Ava Gardner, como também o das pin-ups americanas, loiras e com seios fartos. Entretanto, os dois grandes símbolos de beleza foram Marilyn Monroe e Brigitte Bardot, que eram uma mistura dos dois estilos, a devastadora combinação de ingenuidade e sensualidade. As pioneiras das atuais top models surgiram através das lentes dos fotógrafos de moda, entre eles, Richard Avedon, Irving Penn e Willian Klein, que fotografavam para as maisons e para as revistas de moda, como a Elle e a Vogue.
Durante os anos 50, a alta-costura viveu o seu apogeu. Nomes importantes da criação de moda, como o espanhol Cristobal Balenciaga - considerado o grande mestre da alta-costura -, Hubert de Givenchy, Pierre Balmain, Chanel, Madame Grès, Nina Ricci e o próprio Christian Dior, transformaram essa época na mais glamourosa e sofisticada de todas.
A partir de 1950, uma forma de difusão da alta-costura parisiense tornou-se possível com a criação de um grupo chamado "Costureiros Associados", do qual faziam parte famosas maisons, como a de Jacques Fath, Jeanne Paquin, Robert Piguet e Jean Dessès. Esse grupo havia se unido a sete profissionais da moda de confecção para editar, cada um, sete modelos a cada estação, para que fossem distribuídos para algumas lojas selecionadas.
Ao som do rock and roll, a nova música que surgia nos 50, a juventude norte-americana buscava sua própria moda. Assim, apareceu a moda colegial, que teve origem no sportswear. As moças agora usavam, além das saias rodadas, calças cigarrete até os tornozelos, sapatos baixos, suéter e jeans. O cinema lançou a moda do garoto rebelde, simbolizada por James Dean, no filme "Juventude Transviada" (1955), que usava blusão de couro e jeans. Marlon Brando também sugeria um visual displicente no filme "Um Bonde Chamado Desejo" (1951), transformando a camiseta branca em um símbolo da juventude. Já na Inglaterra, alguns londrinos voltaram a usar o estilo eduardiano, mas com um componente mais agressivo, com longos jaquetões de veludo, coloridos e vistosos, além de um topete enrolado. Eram os "teddy-boys". Ao final dos anos 50, a confecção se apresentava como a grande oportunidade de democratização da moda, que começou a fazer parte da vida cotidiana. Nesse cenário, começava a se formar um mercado com um grande potencial, o da moda jovem, que se tornaria o grande filão dos anos 60.

Moda no Brasil

A década de 50 começa em clima de democracia, situação econômica favorável expressa em grande desenvolvimento industrial e tendências nacionalistas. Houve uma cultura modernizante do modelo desenvolvimentista, potencializado, sobretudo na presidência de Juscelino Kubitschek, induzindo não só a comportamentos mais cosmopolitas, mas a um novo estilo de vida nas cidades brasileiras. Houve os chamados “anos dourados” da classe média, confirmando a extraordinária importância da mídia e da indústria cultural. Entre os fatos importantes desse período: é inaugurada a primeira emissora de televisão do país (Tupi); houve a primeira Bienal de São Paulo; foi iniciada a construção de Brasília com a moderna arquitetura de Oscar Niemeyer; o Brasil vence o Campeonato Mundial de Futebol; acontece a inauguração do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro; na música, surge a Bossa Nova. A indústria têxtil está a todo vapor, orgulhosa de suas exportações e da atividade fabril durante a guerra. Dentre seus principais produtos, o tecido de algodão merecia o maior destaque.

Na moda, o marco foi o aparecimento de butiques e costureiros, sendo estes os fundadores de uma costura “de autor”, não colada nos lançamentos europeus. Gil Brandão aparece como o modelista mais famoso. Verificamos este fenômeno principalmente em Dener Pamplona de Abreu, que inicia sua carreira no Rio de Janeiro e depois muda-se para São Paulo. Ele foi estilista da primeira-dama Maria Tereza Goulart, esposa do então presidente Jango. Maria Tereza, para os brasileiros, concorria com Jacqueline Kennedy em beleza e elegância. Dener foi o primeiro costureiro a questionar sobre moda brasileira e freqüentemente gabava-se de ser ele o criador da moda nacional. Dener, com seu trabalho e prestígio, favoreceu o aparecimento de outros nomes como Clodovil Hernandez, Guilherme Guimarães (autor do uniforme feminino da Marinha Brasileira) e, futuramente, Markito e Ney Galvão.
É o início da alta costura no Brasil, e onde surgem os primeiros questionamentos a respeito da autenticidade da moda brasileira, ou do que esta viria a ser. Nas palavras de Dener: “a moda francesa dita a alta costura, enquanto a italiana influi nos modelos esportivos. Já a moda brasileira nasceu por necessidade climática (…) nossa moda é tropical, com tecidos leves e estamparias mais vivas”.(Dória, 1998, p. 131)
Intensificou-se a produção de revistas e jornais, que alcançaram uma tiragem nacional, com destaque para os colunistas de renome, que passam a exercer papel importante na divulgação dos fatos que envolviam a moda. Até então a moda tinha sido ditada pelas colunas sociais e pelo gosto pessoal das mulheres da alta sociedade, totalmente indiferentes à indústria nacional. Alceu Pena foi um grande nome da moda nacional, ele ilustrava a revista O Cruzeiro com a coluna “As Garotas do Alceu”. Revista semanal esperada por todas as brasileiras para poder fazer em suas respectivas costureiras o que Alceu sugeria como moda. Criou roupas para os badalados concursos de Miss Bangu, patrocinados por essa indústria têxtil carioca. Gil Brandão aparece como o modelista mais famoso. (Braga, 2003). A Bangu criou a ‘Miss Elegante Bangu’ para a promover os tecidos de algodão da empresa e a identidade nacional, numa época embalada pelos sonhos românticos de Hollywood, e em que os concursos de miss causavam comoção nacional.
Diante deste quadro, as grandes tecelagens, como a Matarazzo, a Bangu e a Cia Brasileira Rhodiaceta (que iniciou a produção de fios sintéticos no Brasil), precisavam promover a aceitação de sua produção para um público que, até então, menosprezava o produto nacional. Assim, passaram a convidar nomes da alta costura francesa, bem como costureiros brasileiros reconhecidos, para que estes apresentassem às sociedades paulista e carioca coleções com tecidos brasileiros. São grandes desfiles de modas promovidos pela indústria.
Em 1958, Caio de Alcântara Machado criou a Fenit, primeiro salão de moda a reunir matéria-prima, maquinário e roupa, assinalando o amadurecimento do setor. Nessa mesma fase, surge a imprensa de moda destinada aos profissionais. No ano de 1959, Gil Brandão lançou nas páginas do Jornal do Brasil, os moldes prontos para roupa, propondo a popularização do uso de moldes com estilo. Enfim, é na década de 50 que a moda eclode com uma profusão de eventos, fatos, com a realização de desfiles e os primeiros questionamentos a respeito de se criar uma moda brasileira.
Depois do baby-boom (nascimento de muitos bebês como decorrência da volta dos homens da guerra), a americana tornou-se mais caseira. Embora os anos 50 tenham fama de serem muito pomposos, a mulher adotou a linha casual, refletindo sua imagem de esposa e mãe exemplar. A televisão influenciou muito a moda americana, e era comum as mulheres copiarem roupas de atrizes e atores glamourosos como Doris Day e Elizabeth Taylor.

Design

Depois da Segunda Grande Guerra, é preciso romper com as amarras do passado e procurar novas tendências que apontem para o futuro. O avião supersônico, a estrutura do átomo, a arte moderna, tornam necessário inaugurar uma nova ordem estética onde o futuro é já. Disso resulta uma época de muito exagero! A palavra de ordem é Futurismo. Esta é a tônica de toda uma indústria montada pelo esforço de guerra. É preciso fabricar, e fabricar muito... Criar um mercado mundial que absorva de tudo, até o mais supérfluo. E a forma é o apelo supremo.
O plástico é a matéria-prima. Por ser maleável, o plástico substitui com vantagem a madeira, o metal, materiais nobres. Aglomerados, revestimentos, tudo em nome da produção. Carros, casas, móveis, utensílios, tudo reproduz o movimento, a fluidez. O objeto, mesmo parado, deve sugerir movimento, pronto para alçar vôo.
A arte fornece a paleta de tons berrantes alternados com tons pastel, os ângulos alternados com amebas. O "moderno" tudo incorpora, para criar uma nova forma, combinação de antípodas. Nos cinqüenta, até o mais simples objeto deve anunciar os novos tempos, e com seu formato aposentar o anterior.   O "antigo" é vinculado à estética pré-guerra e portanto, obsoleto. As cores devem ser vivas, daí os corantes para os alimentos, a tinta "martelada", a gelatina colorida, os tons cintilantes (tinta com flocos metálicos). Com a promessa da energia nuclear, barata e não-poluente, tudo passa a ser atômico, até o pincel (hoje, pilot). Todos os produtos trazem no nome a promessa do desempenho: Futuramic, Hydra-Matic. O tradicional ainda tem seu lugar nessa indústria. Mas quem poderá resistir ao apelo do novo?

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